Setenta anos de Falecimento de Vital Brazil Mineiro da Campanha
A família de Vital se mudou para Itajubá quando ele ainda era muito novo (três anos de idade). Vivendo em uma fazenda, ele já demonstrava seu lado de pesquisador: observando com atenção o trabalho das pessoas (na época, escravas), aprendeu a fiar, tecer, moer cana e fazer rapadura.
Vital Brazil passou boa parte da adolescência em Caldas, onde estudou e aprendeu tipografia. Aos 14 anos, trabalhava como vendedor em um armazém, e também trabalhou como condutor de bondes em São Paulo. Para não se tornar um ministro evangélico (desejo do pai), Vital Brazil passou a dar aulas gratuitamente no curso primário para poder fazer o curso secundário. Assim, tonou-se professor.
Aos 19 anos, decidiu estudar medicina no Rio de Janeiro, onde se localizavam as duas únicas faculdades do país. Sem dinheiro para se manter e sem conseguir emprego, retornou para São Paulo. Voltou ao Rio em 1886, com 21 anos, e quando procurou apoio para começar seus estudos, ouviu várias negativas, incluindo ofensas preconceituosas como “Pobre tem que trabalhar. Estudar medicina é para quem pode!”. Triste, mas determinado, pensou: “Qualquer pessoa pode e deve estudar. Hei de estudar e ser médico!”
Para realizar seu sonho, Vital Brazil conseguiu um emprego como professor e também como escrevente de polícia. Economizava cada centavo, andava a pé e estudava com livros emprestados. Mas finalmente conseguiu se matricular na faculdade de medicina.
Na época, os livros de medicina eram escritos em alemão ou francês. Não havia livros escritos em nossa língua. E, para estudar à noite, Vital Brazil lia tudo sob a luz de lamparinas.
Como universitário, conheceu o imperador Dom Pedro II e participou de importantes mudanças no país, apoiando os movimentos abolicionistas e a Proclamação da República.
Após se formar, Vital Brazil mudou-se para São Paulo e casou-se com Maria da Conceição, sua prima de segundo grau. Lá, foi contratado pelo Serviço Sanitário do Estado para combater várias doenças no interior, como febre amarela, cólera, malária, entre outras. Devido às preocupações de sua família com os riscos da nova profissão, Vital Brazil abriu um consultório em Botucatu, SP, onde passou a atender.
Nesse período, atendeu muitas pessoas feridas com picadas de cobra, e percebeu que a maioria delas morria por falta de medicação eficaz. Interessado no assunto, começou a pesquisar os venenos das cobras e a possível cura para eles. Como não havia muitos recursos para continuar as pesquisas em Botucatu, mudou-se novamente para São Paulo.
Nessa época, Vital Brazil trabalhou com Adolpho Lutz no Instituto Bacteriológico. Lá, ele percebeu que os remédios existentes para picadas de cobra não funcionavam com jararacas e cascavéis, típicas em nosso país. Então, ele descobriu que para cada tipo de cobra deveria haver um remédio específico, feito do veneno dela (soro antiofídico).
Essa foi sua grande descoberta! A especificidade do soro, até então, inédita no mundo todo, foi descoberta por Vital Brazil. E os soros que ele criou funcionaram!
Adolpho Lutz, reconhecendo o valor de Vital Brazil, sugeriu ao governo a criação de um laboratório melhor e mais equipado, com um serpentário, para que as pesquisas pudessem avançar. Lá, Vital Brazil descobriu novos soros para picadas de animais peçonhentos.
Em dezembro de 1899, a fazenda Butantan (SP) foi comprada e o governo indicou Vital Brazil para criar um laboratório para a produção de vacinas no local. Eram os primeiros passos para a criação do Instituto Butantan, que só foi nomeado assim em 1925.
No instituto, Vital Brazil criou vários equipamentos para aprimorar as pesquisas e a captura de cobras, e também orientou os moradores locais sobre a importância de se proteger contra esses animais.
Em 1913, perdeu a mãe e também a esposa, com quem teve nove filhos. Mesmo abalado, continuou desenvolvendo o Instituto Butantan, que ganhava cada vez mais respeito. Figuras ilustres da época como Santos Dumont, o rei Alberto da Bélgica e o ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, visitaram o Butantan.
Em 1915, Vital foi expor seu trabalho nos Estados Unidos em um congresso, e passou a ser reconhecido internacionalmente. Após deixar a direção do Butantan, em 1919, mudou-se para o Rio de Janeiro e criou outro centro de pesquisas e produção científica: o Instituto Vital Brazil, em Niterói. Hoje, a instituição é considerada um dos mais importantes centros de pesquisa da América Latina.
Em 1920 Vital casou-se com Dinah, com quem teve mais nove filhos. Em 1924, reassume o Instituto Butantan. Além de grande cientista e médico, Vital Brazil tinha muitas preocupações sociais. Pensando que as crianças e adultos analfabetos deveriam ter a chance de estudar, criou uma das primeiras escolas do Brasil que alfabetizava crianças durante o dia e adultos durante a noite. O sucesso foi tão grande que a escola tornou-se pública e hoje é conhecida como Escola Estadual Alberto Torres.
Vital Brazil faleceu em 08 de maio de 1950, aos 85 anos de idade, deixando um imenso e riquíssimo legado para nosso país. Em suas palavras: “Fiz uma parte do muito que gostaria de fazer pela humanidade. Não tenho orgulho de minha pobre ciência, mas estou satisfeito com minha alma e meu coração.”
Em 2015, em virtude da celebração dos 150 anos de Vital Brazil, e dos 278 anos de Campanha, o município recebeu uma estátua do cientista. A peça foi esculpida em bronze e tamanho natural pela artista Sandra Guinle, e exibe Vital Brazil extraindo o veneno de uma serpente. A estátua é uma doação do Instituto Vital Brazil (IVB), Casa de Vital Brazil (CVB), Fundação Ezequiel Dias (FUNED) e Instituto Butantan (IB) ao município da Campanha.
Fontes:
Texto e 2ª Imagem: http://campanha.mg.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1125:vital-brazil-o-cientista-campanhense&catid=60:cultura&Itemid=163 acessado em 8/05/2020 às 13h.
1ª Imagem: https://blogdivulgaciencia.wordpress.com/2015/01/05/divulga-cientista-vital-brazil/ acessado em 8/05/2020 às 13h15min.
Comentários
Postar um comentário