Biografia - Professor Francisco Custódio Neto

DISCURSO DE AGRADECIMENTO

Proferido pelo Prof. Francisco Custódio Neto, por ocasião de sua posse e de seus confrades, Dr. Raphael Gonçalves Lima,  Prof. Frederico Pires Garcia e Sr. Almir Reis Ferreira Lopes, no Instituto Histórico e Geográfico da Campanha, aos 25 de julho de 1992.

        

        Coube a mim, indicado a segundo ocupante da cadeira nº 1 que traz como patrono o Capitão-Mor Dom João de Toledo Piza e Castelhanos, a honrosa tarefa de usar da palavra nesta sessão para agradecer em nome dos confrades recém-empossados neste sodalício, Dr. Raphael Gonçalves Lima, 3º ocupante da cadeira nº 14 que tem como patrono o Pe. José de Souza Lima; Prof. Frederico Pires Garcia, 2º ocupante da cadeira nº 26 cujo patrono é o Dr. Antônio Dias Ferraz da Luz e o Sr. Almir Reis Ferreira Lopes, 2º ocupante da cadeira nº 33, sendo patrono o Sr. Manoel de Oliveira Andrade, mercê do Instituto Histórico e Geográfico da Campanha - Casa Alfredo Valladão.
        Agradecer é gesto tão nobre quanto o dar e receber. É nobre o gesto que oferece; é distinto o gesto que recebe; é sublime, porém, o gesto que agradece.
        Lembra-me, por oportuna, a parábola evangélica que narra a cura miraculosa de dez portadores do bacilo da Hansen, quando nove deles, eufóricos pelos efeitos da cura divina, saíram a divulgar o dom recebido e não voltaram. Somente um estrangeiro voltou para agradecer. Esse era samaritano. Donde o Mestre lhe perguntou: "_ Onde estão os outros nove? Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?" (Lucas 17, 11-19).
       Esta data, engalanada por uma solenidade emocionante como nenhuma pelo que significa para seus protagonistas, inaugura uma nova fase em nossas vidas.
        Seduzidos pelos encantos do saber; pelo amor ao estudo; pela dedicação à pesquisa; pelo respeito à tradição; pelo culto aos valores legados dos antepassados; recebemos dos preclaros e abnegados confrades as honrarias materializadas na aprovação de nossos nomes ao excelso patamar desta instituição cultural.
        Ao longo de tantos anos, qual verdadeiros arautos do saber, e do culto às tradições campanhenses, estes cidadãos vêm dedicando suas vidas ao desenvolvimento da Ciências Histórica e consequentemente à preservação das raízes culturais sul-mineiras.
        Perpassando algumas páginas da História da Campanha, surpreso até com a riqueza de suas fontes e com a variedade de fatos insuperáveis - alguns esquecidos já das novas gerações - pude sentir e avaliar a extensão e a profundidade da incumbência que recebemos destes campanhenses comprometidos com a História.
        É um presente; é um dom; é um reconhecimento, quiçá, de algum potencial que ainda poderemos pôr a serviço de nossos irmãos e da humanidade, como fizeram os nossos antecessores, porque méritos só teremos, se a História os reconhecer. Assim foi com os antigos. Assim o constatamos com os que nos precederam. A História não mente. Sua voz serena, grave, concisa e firme, como que sustentada pelos alicerces do tempo que amadurece as ideias; aguça a observação; prova a experiência; seleciona as opiniões; depura os fatos e revela a verdade cristalina e incontestável.
        Campanha refulgiu como estrela, encantou qual princesa este rincão sul mineiro onde o verde das colinas e o azul do céu que ostenta soberbo o Cruzeiro do Sul derramam em abundância a paz ambiental, a fertilidade dos campos e a cordialidade de sua gente.
        Mas acaso Campanha deixou de ser histórica na hierarquia da expansão social e política regional, ou se tornou menos encantadora perante um final de século vestido de desencanto, apocalíptico e paradoxal?
        Eis que se descortina uma realidade nova: uma geração sedenta de progresso, amante da felicidade e da justiça entre os homens, cônscia, porém, de sua missão de resgatar o passado, harmonizá-lo com o presente numa perspectiva de construção progressiva do futuro.
        Pela confiança demonstrada nesse pensamento conciliador é que agradecemos aos membros deste sodalício, ratificando nossa crença em que a pesquisa, a ciência e o progresso social, político e econômico da comunidade devem ter sustentação e estímulo na experiência dos nossos maiores.
        O insigne historiador campanhense, no pórtico da monumental obra Campanha da Princesa, entre outros epítetos, evoca aterra natal e a denomina "Athenas Sul Mineira" e mais adiante afirma: "Não cessa alli, nunca, a entrada dos melhores, para a composição do meio social.".
        Imbuídos todos desse ideal, experientes confrades e neófitos, comungamos a certeza de que essa é a razão profunda que nos levou a galgar esta posição em que a responsabilidade com a pesquisa, o saber e o progresso nos torna co-participantes na construção de um mundo melhor.
       A chama do ideal há de nos levar a perscrutar a História, livros do materialismo ateu que discrimina o homem nas suas aspirações mais profundas, visto que "os fatos ocorridos no abençoado torrão ou fora dele, propulsionados por seus filhos, importam a própria História Brasileira".
    Antevemos aí raízes benfazejas de muita pesquisa, evocadoras de um Instituto de Pesquisas Históricas de renome, quando nos permitimos associar a estas ideias a de uma Universidade integrada na vocação campanhense.
   O futuro reserva-nos incomensurável campo de trabalho onde haveremos de demonstrar diuturnamente gratidão aos eméritos cidadãos, dignos filhos desta Atenas, amigos diletos dos confrades neófitos, porque os fatos históricos não acontecem sem a ação pertinente do homem. A investigação do fato histórico reporta necessariamente àqueles homens de bem que erigiram a Cidade da Campanha e aos que a mantêm viva no contexto de Minas e do Brasil.
        Permito-me buscar em socorro as palavras de Carlos Drumond de Andrade, como reflexão e fecho destas mal costuradas ideias em mensagem de gratidão dirigidas a este ínclito auditório. Na maestria de sua pena, diz o itabirano:

        “E como ficou chato ser moderno.
        Agora serei eterno.
        ....................................................
        Eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
        mas com tamanha intensidade que se petrifica
        e nenhuma força o resgata”.

        (In Fazendeiro do Ar. Obras Completas. P.318. Aguilar, 1977).

        Senhoras e Senhores.

      Se Campanha sempre desempenhou sua missão robustecida na fé, outro caminho não nos parece mais salutar. Caminho este traçado sob os auspícios do batismo que professamos e sob cuja luz invocamos a santíssima Trindade que nos inspirou a parábola narrada pelo evangelista Lucas. E recriamo-la, porque voltamos todos para agradecer o privilégio desta distinção, glorificando a Deus.

        Tenho dito.

        Muito Obrigado.

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